quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Percorrendo o caminho com ou sem S.O.P.A.

Democracy Now! é um programa de notícias, análise e opinião diário. É sindicalizado de forma independente e não tem fins lucrativos. Nasceu em 1996 em Nova York e é transmitido por mais de 950 estações através da rádio, televisão, satélite, e cabo, sendo a maioria não comerciais. Descobri-o esta semana e fiquei bastante impressionado. Nada melhor que um excerto para que me percebam e saibam o que dizem os protagonistas do "debate" mais importante da actualidade.
Afinal, o que é o S.O.P.A. e o P.I.P.A.? E o que é que isso tem a ver com o preço do arroz?

Jimmy Wales e Sandra Aistars estão de acordo apenas num ponto: O que o seu opositor diz é mentira. Em quem é que vou acreditar? Seria a pergunta que mais rapidamente chegaria às nossas mentes se se tratasse de um debate a serio. No entanto, acho mais importante salientar o facto de haver alguém que está a representar um papel. A pergunta que mais me intriga é: Será que essa pessoa acredita verdadeiramente no que está a defender?
Na quinta-feira passada, dia 19 de Janeiro, o FBI fechou o site de partilha de ficheiros Megaupload e o jornal Público deu conta da notícia com um título à medida: "Megaupload, o site "ilegal" apoiado pelas maiores estrelas da música". Publicou também um vídeo de promoção do site, gravado no final do ano passado, onde é claro o apoio de personalidades da música pop como Kanye West, Snoop Dogg, Alicia Keys ou Will.i.am.

Ainda achas que Sandra Aistar acredita verdadeiramente no que defende? É claro que o faz para defender os seus próprios interesses, assim como os interesses de um grupo muito reduzido de pessoas que não são os artistas. Será que consegue dormir descansada e acordar de manhã com um sorriso?
A batalha sobre os direitos de autor já tem alguns anos, tendo começado quando surgiram as primeiras plataformas de partilha de ficheiros, como o Napster em 1999. A minha pergunta é: Porque é que só agora, mais de 10 anos depois do início de uma batalha que não pode ser ganha, é que o governo americano se lembra de criar esta legislação? Cumprida à letra, eu não poderia escrever este blog publicando excertos de material com direitos de autor. Porque é que estas leis, que vão claramente contra o direito fundamental da liberdade de expressão, surgem precisamente ao mesmo tempo em que milhares de pessoas em todo mundo se manifestam contra as elites?
Este é um excelente exemplo, onde fica demonstrado que há pessoas que querem que as populações não tenham acesso à informação. Esta permite-nos aumentar os níveis de consciência sobre o modo como o jogo funciona e agir em consequência. A internet é uma arma fundamental, das poucas que temos nesta guerra pacífica. Se não existisse, nunca se poderia dar a nossa inevitável vitória.

domingo, 15 de janeiro de 2012

A coisa mais importante do mundo

Naomi Klein é uma escritora e jornalista Canadiana que acompanhou desde um barco o derrame de petróleo no Golfo do México por parte da gigante britânica BP em 2010. Nessa altura, Klein viajava pelo mundo pesquisando informação para o seu último livro The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism. Confesso que não li o livro e que só depois de assistir à palestra de promoção da obra é que percebi a profundidade do título. Ela argumenta que aqueles que pretendem implementar políticas neoliberais (privatização dos serviços estatais, abolição de regulação dos mercados, e muitas outras que nos deixam nas mãos de apenas algumas empresas) fazem-no muitas vezes tirando partido das circunstâncias que precedem grandes desastres, que podem ser de origem política, económica, militar ou natural. Após estes acontecimentos, as populações em choque sentem um grande desejo de responder para corrigir a situação. No entanto, essa conjuntura é uma oportunidade para os actores sem escrúpulos implementarem tais políticas que vão apenas de encontro aos interesses corporativos.
Klein foi convidada a comparecer e a dar o seu contributo durante os primeiros dias do movimento Occupy Wall Street em Nova York. Nessa altura fez um discurso de apoio ao movimento e eu fiquei a "conhecê-la", quando, no dia da ocupação da bolsa de valores de Londres, me deram um papel com esse seu discurso. O que mais me despertou a atenção foi o título: A coisa mais importante do mundo. Não tenho dúvidas, a mulher tem razão. No sentido de sustentar esta visão, vou falar-vos do que está a acontecer em Londres neste momento.
No dia 19 de novembro do ano passado foi ocupado um novo espaço por parte do movimento Occupy. Trata-se de um grande edifício pertencente ao banco UBS que agora é conhecido como Bank of Ideas. O espaço está aberto a todo o tipo de actividades, desde exposições, reuniões, palestras até workshops que qualquer pessoa queira organizar. Fui levado ao local num dos primeiros dias do ano, intrigado por um encontro chamado Universidade Livre. Reunido numa das salas encontrei um grupo de pessoas sentadas no chão (o edifício estava abandonado e vazio antes da ocupação) à volta de uma grande mesa redonda sem pernas. Começamos por dizer os nossos nomes e a causa da nossa presença. Fiquei surpreendido quando percebi que metade dos participantes eram experientes professores e investigadores com provas dadas que actualmente trabalham em algumas das melhores universidades de Londres. "A ideia é criar uma universidade livre dos poderes que a controlam hoje em dia" - discutia-se. Pode ler-se no forum entretanto criado: Universidade Livre - Livre do estado, dos mercados, e do lucro. Fiquei a saber que alguns desses professores já utilizam aquele espaço para organizar encontros, ou aulas, gratuitas obviamente, onde abordam temas que lhes parecem relevantes atendendo à sua especialidade. Actualmente estão a decorrer 5 cursos: Pensamento crítico com o Clive; Literacia Económica com o William; Questões contemporâneas em assuntos internacionais também com o William; Pensando nos problemas fundamentais com o Nick (Nicholas Maxwell); Direito para a cidade? com a Debbie.
É espantoso, não acham?!
Vou concluir este longo post voltando ao início, como já se vai tornando hábito.
Eu acho que comportamentos como os que estes professores e investigadores privilegiados adoptam, tal como os comportamentos que todas as pessoas que saíram à rua em protesto no ano passado, tal como o comportamento de todas as pessoas que de alguma forma "lutam" ou contribuem livremente para melhorar a vida de outras pessoas através de serviço de voluntariado, participação em organizações sem fins lucrativos, participação em qualquer tipo de movimento onde os valores da paz, liberdade e igualdade são defendidos, fazem parte do maior movimento da história da nossa civilização. Eu acredito, e não sou o único como já vão ver, que este tipo de iniciativas tomadas por pessoas como eu e tu, fazem parte de uma resposta natural do organismo composto, mas indivisível, chamado humanidade, aos problemas que esse mesmo organismo enfrenta nos dias que correm. Eu concordo com o Paul Hawken, o homem que escreveu um livro com um grande título em 2007: Unrest Blessed: Como o maior movimento do mundo surgiu e por que ninguém o viu chegar.
Desfrutem deste pequeno excerto de uma das suas palestras e tenham consciência de que esta é a coisa mais importante do mundo.

domingo, 8 de janeiro de 2012

O paradoxo libertador

Em 2009 li um livro muito interessante chamado A Nova Inteligência de Daniel Pink. Nesse livro, o autor começa por classificar as idades em que vivemos. Agricultura (trabalhadores agrícolas), Industrial (trabalhadores fabris) e Informação (trabalhadores do conhecimento) foram as primeiras. No entanto, nesta altura encontramo-nos no início de uma outra, a idade Conceptual. Nesta, os trabalhadores são criadores e "empatizadores" ou geradores de empatia. O livro continua, explorando de que maneira os negócios podem ter sucesso nesta nova idade. Pink refere 3 tendências para o futuro dos negócios e da economia: 1 - Abundância (os consumidores têm muitas escolhas, não há escassez), 2 - Ásia (tudo o que for possível será feito em zonas mais baratas) e Automação (o trabalho humano será substituído por máquinas através da computorização, robôs, avanço da tecnologia, novos processos). Partindo destes princípios o autor chega à conclusão de que a única maneira de tornar as comodidades ou produtos competitivos é torná-los mais originais. Para isso são necessários trabalhadores mais criativos e exímios numa série de competências que até agora não eram valorizadas. O livro acaba com a exploração de 6 sentidos humanos que, segundo ele, estarão na base do sucesso: Design, História, Sinfonia, Empatia, Diversão e Sentido.
Na mesma altura li um outro livro fascinante escrito por um dos mais populares físicos da actualidade. Michio Kaku tenta descortinar o futuro com base nos conhecimentos da física actual. Em Física do Impossível, Kaku explora certos conceitos como o teletransporte, invisibilidade ou telepatia por exemplo. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, não há nenhuma lei da física que nos impeça de concretizar qualquer uma destas ideias. Apesar de algumas serem actualmente impossíveis (o teletransporte de fotões foi já conseguido), no futuro, com o desenvolvimento da tecnologia, poderão vir a tornar-se realidade. Em determinada altura, Kaku aborda o tema das competências que futuramente as pessoas terão que desenvolver para que possam contribuir para o desenvolvimento das indústrias: "Os empregos do futuro incluirão também os empregos que exigem senso comum, ou seja, criatividade artística, originalidade, talento actuante, humor, diversão, capacidade de análise e liderança."
Os anos passaram e este trecho de Física do Impossível ficou registado num caderno meu. Ficou também registado na minha memória pelo facto de concordar com ele, mas também pela minha vontade de explorar essas competências que nunca foram trabalhadas pelas instituições de ensino que frequentei. Desde os meus tempos de infância, sempre senti claramente que não me era estimulada a criatividade.
Há pouco tempo encontrei um vídeo na internet que resume o último livro de Daniel Pink, Drive: A Surpreendente Verdade Sobre Aquilo Que Nos Motiva.

Não parece haver dúvidas quanto à direcção que os sistemas de ensino têm que tomar no sentido de desenvolverem as competências necessárias às exigências do mercado. Mas... esperem lá! Para obter melhores performances na idade Conceptual, ou seja, para tornar os trabalhadores mais criativos, o dinheiro já não funciona como motivador, certo? Para isso temos que ter como base a autonomia, a mestria e o propósito. Não são estes factores contrários às leis do mundo corporativo actual? A existência do Mozilla Firefox, Wikipédia, Linux e todo o tipo de software aberto, assim como a existência de comunidades que se desenvolvem através da colaboração voluntária, como o CouchSurfing, são a prova de que a maneira como vivemos está a mudar, dando força à ideia de que outro mundo, com outros valores, é possível.