Copia e sorri

Nos últimos dias encontrei algumas pessoas que são a favor das leis discutidas no post anterior. Do meu ponto de vista, a sua posição deve-se a uma clara falha na compreensão das implicações que estas leis teriam sobre a liberdade dos utilizadores da internet. O seu argumento é o seguinte: Fazer downloads é roubar! E como é que os artistas ganhariam a vida? Aqueles que fizeram o vídeo de apoio ao Megaupload são uns apenas meia dúzia de milionários e por isso não representam os artistas em geral.

Fazer downloads não é roubar. É copiar. Quando se faz uma cópia de um ficheiro, o original não é roubado, ele continua a existir. Também não se trata de uma cópia de imitação porque o novo ficheiro é exactamente igual ao original. Para além disso, as cópias não custam nenhum tipo de recurso a ninguém, o que torna o acto totalmente inofensivo. O que estas leis fazem é encarcerar conteúdos para proteger as grandes empresas que fazem dinheiro com a sua venda. Mas será que isto faz sentido? Tratando-se de um livro, um filme ou música, estes conteúdos podem ser vistos simplesmente como um conjunto de ideias. Queres viver num mundo onde até as ideias têm um preço? Agora com a internet, as ideias são imortais e acessíveis a todos.
O que muitos dos apoiantes destas leis não sabem é que ser artista nunca foi, nem é hoje em dia, necessariamente sinónimo de grande fortuna. Historicamente, os músicos sempre foram pessoas pobres. Dedicavam-se à música simplesmente pela paixão que sentiam em fazer soar o seu instrumento. Tinham um estilo de vida nómada, espalhando os seus sons por vários locais e assim conseguiam o seu sustento. Hoje, não só os músicos, mas todos os artistas que vemos na televisão, os que ganham os prémios da MTV e os Óscares, os que são conhecidos além fronteiras, esses que vivem vidas de luxo, são apenas uma percentagem muito pequena dos artistas existentes. A maioria continua a dedicar-se à arte por paixão mesmo que isso signifique ter um baixo nível de vida. O mais importante para eles é fazer o que gostam e espalhar a sua mensagem ou obra. Este grande número de profissionais e amadores, que é muito maior do que o número de super estrelas, tem todo o prazer em que o seu trabalho seja desfrutado por todos os que o desejam conhecer. Para isso, é incontornável a partilha gratuita de ficheiros na net.

Na última semana fiquei a conhecer o Anti-Counterfeiting Trade Agreement, mais conhecido por ACTA. Pode dizer-se que é uma versão internacional da lei Americana S.O.P.A., mas as suas implicações parecem ir ainda mais longe. Este acordo tem sido desenvolvido pelos governos Europeus, Americano e Australiano desde 2008! Quando é que foi a primeira vez que ouviste falar nisto?

Nas minhas habituais pesquisas encontrei também um vídeo em que o grupo Anonymous declara guerra a todos os países envolvidos na conceção do acordo ACTA. É interessante saber que esta declaração foi publicada no YouTube a 26/11/2009!!!
Na semana passada, dia 26 de Janeiro, muitos defensores da neutralidade da internet saíram à rua na Polónia para protestar contra o ACTA. Ouviste falar disso? E sabes o que fizeram os deputados do parlamento Polaco em protesto contra a assinatura deste acordo?
Brutaaaal!!!
Os direitos da máscara de Guy Fawkes pertencem à Time Warner que ganha uns trocos por cada unidade vendida. Gosto especialmente do pequeno detalhe de terem usado máscaras contrafeitas e não as originais.
Há vários anos que esta batalha está a ser travada. Na Suécia, nasceu em 2006 o Partido Pirata. Rapidamente despertou uma enorme simpatia internacional, inspirando vários outros países a fundarem a sua própria versão do partido. Actualmente contam-se 17 países onde o Partido Pirata está registado oficialmente. São apoiantes dos direitos civis, democracia directa e participação, reforma das leis de copyright e das patentes, partilha livre de conhecimento, privacidade de dados, transparência, liberdade de informação e educação gratuita. A sua maior vitória deu-se em Berlim em Setembro do ano passado, tendo conseguido 8,9% dos votos nas eleições da cidade-estado. Aqui fica um dos vídeos de promoção do partido para essas eleições.

Ainda há mais. No dia 5 de Janeiro do presente ano, foi reconhecida uma nova religião pela Agência de Serviços Leais, Financeiros e Administrativos da Suécia (Kammarkollegiet). Chama-se Kopimismo e tem muita piada! Para que percebas melhor do que se trata, Kopiei um vídeo de um colega do YouTube e adicionei-lhe umas legendas. Aqui está.

Estou de acordo com o que ele diz em relação à importância do fluxo livre de informação. Também acredito que esta partilha possibilita uma melhor compreensão individual e colectiva do que somos, e de qual é o nosso lugar no universo. Mais, acredito que só pode haver esta alteração de consciência porque houve um avanço da tecnologia e está a decorrer a consequente mudança de comportamentos. Ao contrário do nosso colega, não vejo problema nenhum em levar a coisa de forma ligeira e divertida. "Para quê levar a vida tão a sério, se a vida é uma alucinante aventura da qual jamais sairemos vivos?" Já dizia o Bob Marley