Em 2009 li um livro muito interessante chamado A Nova Inteligência de Daniel Pink. Nesse livro, o autor começa por classificar as idades em que vivemos. Agricultura (trabalhadores agrícolas), Industrial (trabalhadores fabris) e Informação (trabalhadores do conhecimento) foram as primeiras. No entanto, nesta altura encontramo-nos no início de uma outra, a idade Conceptual. Nesta, os trabalhadores são criadores e "empatizadores" ou geradores de empatia. O livro continua, explorando de que maneira os negócios podem ter sucesso nesta nova idade. Pink refere 3 tendências para o futuro dos negócios e da economia: 1 - Abundância (os consumidores têm muitas escolhas, não há escassez), 2 - Ásia (tudo o que for possível será feito em zonas mais baratas) e Automação (o trabalho humano será substituído por máquinas através da computorização, robôs, avanço da tecnologia, novos processos). Partindo destes princípios o autor chega à conclusão de que a única maneira de tornar as comodidades ou produtos competitivos é torná-los mais originais. Para isso são necessários trabalhadores mais criativos e exímios numa série de competências que até agora não eram valorizadas. O livro acaba com a exploração de 6 sentidos humanos que, segundo ele, estarão na base do sucesso: Design, História, Sinfonia, Empatia, Diversão e Sentido.
Na mesma altura li um outro livro fascinante escrito por um dos mais populares físicos da actualidade. Michio Kaku tenta descortinar o futuro com base nos conhecimentos da física actual. Em Física do Impossível, Kaku explora certos conceitos como o teletransporte, invisibilidade ou telepatia por exemplo. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, não há nenhuma lei da física que nos impeça de concretizar qualquer uma destas ideias. Apesar de algumas serem actualmente impossíveis (o teletransporte de fotões foi já conseguido), no futuro, com o desenvolvimento da tecnologia, poderão vir a tornar-se realidade. Em determinada altura, Kaku aborda o tema das competências que futuramente as pessoas terão que desenvolver para que possam contribuir para o desenvolvimento das indústrias: "Os empregos do futuro incluirão também os empregos que exigem senso comum, ou seja, criatividade artística, originalidade, talento actuante, humor, diversão, capacidade de análise e liderança."
Os anos passaram e este trecho de Física do Impossível ficou registado num caderno meu. Ficou também registado na minha memória pelo facto de concordar com ele, mas também pela minha vontade de explorar essas competências que nunca foram trabalhadas pelas instituições de ensino que frequentei. Desde os meus tempos de infância, sempre senti claramente que não me era estimulada a criatividade.
Há pouco tempo encontrei um vídeo na internet que resume o último livro de Daniel Pink, Drive: A Surpreendente Verdade Sobre Aquilo Que Nos Motiva.
Não parece haver dúvidas quanto à direcção que os sistemas de ensino têm que tomar no sentido de desenvolverem as competências necessárias às exigências do mercado. Mas... esperem lá! Para obter melhores performances na idade Conceptual, ou seja, para tornar os trabalhadores mais criativos, o dinheiro já não funciona como motivador, certo? Para isso temos que ter como base a autonomia, a mestria e o propósito. Não são estes factores contrários às leis do mundo corporativo actual? A existência do Mozilla Firefox, Wikipédia, Linux e todo o tipo de software aberto, assim como a existência de comunidades que se desenvolvem através da colaboração voluntária, como o CouchSurfing, são a prova de que a maneira como vivemos está a mudar, dando força à ideia de que outro mundo, com outros valores, é possível.