segunda-feira, 13 de junho de 2011

Carrossel infinito

É absolutamente inacreditável a quantidade de porcaria a que se pode assistir quando se liga uma televisão nos dias que correm. No que a mim me diz respeito, já vai para uns anitos que "Não tenho paciência pra televisão/Eu não sou audiência para a solidão" como dizem Os Tribalistas. Desde que vim para cá nem tenho acesso a esse aparelho maldito e posso finalmente ficar totalmente livre do habito de ver o único programa a que assistia regularmente, o telejornal. Não passou ainda muito tempo mas já sinto falta disso. Mas será que sinto falta do que verdadeiramente importa? De informação? Não, estou agora talvez até melhor informado do que antes. O que sinto falta é daquele momento de paralisia cerebral, de me sentar no sofá a olhar algo sem o ver, de perder a percepção do ritmo a que o tempo passa, de me deixar levar num adormecimento de olhos bem abertos, sempre de consciência tranquila porque afinal eram notícias e isso interessava-me. É preciso ter consciência de que existe apego, de que há algo de vício na relação com a televisão.
Há, portanto, um gigantesco potencial comercial encoberto por trás deste aparelho baseado na astúcia, na má-fé e no oportunismo. Este potencial é meticulosamente aproveitado na busca desenfreada de lucro pelas instituições dominantes dos nossos tempos, as grandes corporações. As grelhas de programação são feitas com base no que o grande público quer ver, sendo a quantidade de telenovelas um bom exemplo. As grandes séries famosas a nível mundial, como Perdidos, estão cada vez mais "interessantes", são engenhosamente avançadas e estão em constante desenvolvimento para fazer render o peixe sempre que seja conveniente. Vale tudo, e a exposição da miséria humana nos reality shows é hoje em dia o expoente máximo na demonstração duma nova e distorcida escala de valores que parece ter uma aceitação cada vez mais consensual a cada dia que passa.
A maior parte das pessoas emprega grande parte do seu tempo livre a ver televisão, como se não fossem dotados de engenho suficiente para desenvolverem outra actividade. Ficam presas num carrossel infinito para onde a sua atenção é sugada e tornam-se autênticos vegetais.

Eh pah! Não falei dos telejornais.
Pois, mas isso é outra história.

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